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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Missão chavista mantém médicos e enfermeiros cubanos cativos

FOLHA DE SÃO PAULO
O intercâmbio de "petróleo por médicos", símbolo maior da aliança Caracas-Havana que completa dez anos, mudou a cara da atenção médica básica na Venezuela, admitem até os mais críticos de Hugo Chávez.
Mas a chamada Missão Bairro Adentro, que, pela primeira vez, espalhou postos de saúde nas zonas mais pobres do país, tem uma faceta sombria: o severo regime a que é submetida boa parte dos 30 mil profissionais de saúde cubanos que o sustentam.
Isso é o que contam médicos e enfermeiros que deixaram a missão --"desertaram", nas palavras tanto do governo cubano como do venezuelano.
A exemplo do que acontece com delegações de atletas cubanos em competições internacionais, médicos, enfermeiros e técnicos estão sob vigilância constante. "Temos de seguir um regulamento disciplinar que nos mostram quando chegamos. É apenas uma das maneiras de nos submeter a um esquema de escravidão moderna", disse à Folha o médico Miguel Majfud, 40, hoje em Miami.
Majfud faz parte de um grupo de ex-colaboradores que pede, na Justiça americana, US$ 15 milhões em ressarcimento da estatal petroleira PDVSA e dos governos venezuelano e cubano por trabalho em regime de "servidão".
RESTRIÇÕES
O suposto regulamento faz parte da ação. Nele se lê, por exemplo, que os profissionais cubanos têm de pedir "autorização" para dormir fora do alojamento designado pelo governo, para fazer "amizades" fora do trabalho ou namorar.
Estão proibidos de viajar ou dirigir veículos e tomar bebidas alcoólicas ou falar com a imprensa. Recomenda-se que, para evitar riscos, não frequentem lugares fechados como "bares, discotecas, cinemas, etc."
O venezuelano Adolfo Delgado, presidente da Sociedade Bolivariana da Venezuela de Medicina Geral Integral, que reúne especialistas locais em atenção primária, diz conhecer as restrições, mas nunca viu o regulamento.
"Sei que eles têm uma série de restrições. Eles não podiam participar de reuniões se fossem à noite. Falavam que tinham de pedir autorização com antecedência", conta Delgado, que esteve de 2004 até o ano passado no programa, onde cerca de 10% dos médicos são venezuelanos.
"Muitos vivem confinados. Deveriam ter melhores condições, mas acho exagero falar em escravidão."
Maria C. Werlau, diretora da ONG Cuba Archive, que cataloga violações de direitos humanos, também menciona o regime restritivo. "Restrições como essa escutamos de vários médicos que deixaram as missões, e não só na Venezuela", diz ela, que pesquisa o tema.
Em 18 de novembro, a Folha enviou o suposto regulamento à Embaixada de Cuba em Caracas para tentar corroborar sua veracidade. Também solicitou entrevista com o diretor do programa.
Até o fechamento desta edição, a representação cubana não havia respondido.
ROTA DE FUGA
Não há cifras exatas de quantos cubanos decidiram deixar missões pelo mundo ou na Venezuela. Um termômetro, porém, é o número de profissionais que receberam visto americano por meio de um programa criado pelo governo George W. Bush, em 2006.
Questionado pela reportagem, o governo Obama informou que até agora foram entregues 1.762 vistos.
A "maioria" está nas mãos de ex-integrantes da missão na Venezuela, quer tramitados na Embaixada dos EUA em Caracas ou em Bogotá --a Colômbia é importante rota de fuga, num esquema que envolve subornar vigilantes da fronteira.
Telegramas da Embaixada dos EUA em Caracas, vazados pelo site WikiLeaks, também revelam pela primeira vez quantos vistos foram entregues diretamente na Venezuela: 722.
Os documentos falam de "crescente perseguição" dos médicos e da cobrança de suborno (US$ 1.000 ou R$ 1.700) por funcionários do aeroporto de Caracas para deixá-los partir

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